Monday 30 March 2009

Ressonância

O ano passado por esta altura estava a fazer um post sobre como ocupei o tédio das férias da Páscoa. Já não me lembrava. Falei de uns livros que tinha lido, quando ainda lia um bocado. O que disse dos livros vai ressoar um bocado o que vou dizer agora. Andamos sempre à volta do mesmo, e é mesmo disso que quero falar. Como sempre aliás.

Ando a ver Tsai Ming-liang. É o realizador de The Wayward Cloud, aka O Sabor da Melância, que toda a gente conhecia na Soares quando saiu basicamente porque há muita pornografia no filme, e em geral nos filmes dele. Numa entrevista, ele diz que os taiwaneses ainda o consideram tabu, apesar de estarem mais do que expostos à indústria do sexo, e que todos eles pensam no assunto, mas se calhar ele pensa mais do que eles. E ri-se como uma menina. É um traquinas, o Tsai, mas leva-nos onde ele quer. Ele usa a pornografia como o Godard usa a prostituição - é uma forma de chegar onde ele quer. E eu diria que se não andasse a ver o Godard, se calhar este Tsai tinha-me passado ao lado.
Os dois falam da impossibilidade de ultrapassar a barreira que separa Eu do Outro, mas de formas diferentes. O Godard enche as suas personagens de palavras e pensamentos e texto e filosofias. O Tsai enche-as de nada. As personagens dele só têm espaço para percorrer, sem ocupação, sem significado, sem encontrar um objectivo. No purpose, no meaning. Como o Alberto Serra, é a negação da narrativa. O Tsai também admite a experiência cinematográfica como retrato/documentário da performance. Ele usa sempre o mesmo actor e muitas vezes há continuidades de filme para filme. Recusa os argumentos e antes cria situações. Andy Warhol. Situações que normalmente são coisas que lhe aconteceram, ou que aconteceram ao actor durante o filme anterior. A justificação para se fazer o Sabor da Melância foi que 'queria ver como o Lee Kang-cheng reagia como actor porno'. E no entanto a estética e a composição é mais do que deliberada, é obsessiva. O Tsai é um traquinas.. e acho que ele também gosta de fazer a sua performance.
Vemos pessoas a fazer o que bem entendem, sozinhas. Fazem xixi, cocó, tomam banho, coçam-se, preocupam-se com uma borbulha que têm no pescoço, esticam-se para chegar às coisas sem terem de se levantar, demoram tempo a adormecer, vêem televisão sem expressão, masturbam-se e mais ou menos deambulam. Sozinhas. De vez em quando encontram outro, de vez em quando há sexo, de vez em quando partilham alguma coisa - nunca há conversa. Há obsessão por coisas. Os planos são intermináveis e a maior parte das acções banal. Por que é que se vê um filme destes?
Porque cinema não é necessariamente entertainment, antes de tudo. Ou antes, entertainment não é necessariamente divertido ou empolgante. É uma criação artística em quatro dimensões e não precisa, não precisa, de estar preso à narrativa. É o erro da French New Wave. O texto não tem de ser superior no cinema, porque é um meio essencialmente de imagem e som. Deixai-o ser. Não estamos habituados a ver isto, e normalmente é chamado experimental e comercialmente só aparece em VJ-ings ou music videos. Mas se calhar já estamos mais preparados para um cinema que é verdadeiro para consigo e fiel às suas características. E não é a falta de texto que vai retirar poder de comunicação aos filmes. Pelo contrário, uma imagem não vale mil palavras? Gosto muito dos do Godard e no entanto só me consigo envolver com eles racionalmente. O I don't want to sleep alone do Tsai fez-me chorar.
Mais vídeo-frases experimentais nos próximos meses para pôr em práctica isto tudo. É só palavras!..

Wednesday 25 March 2009

Btw, não cheguei a dizer isto no Input, mas também gosto muito do vídeo da Puma pela forma como a coreografia representa l'amour, como diriam os indie french lovers.
Algumas ideias para projectos de tema lamechas e respostas nada lamechas, muito sui generis. C'est si bon...

LCC again

Só para anotar que vou ter uma entrevista dia 15 de Abril na LCC, para o BA de Film and Video. Pode ser que tenha sorte. Era muito bom..!

Outra coisa que me veio à cabeça no outro dia. Era brutalíssimo haver um estudo imagístico das diferenças a nível de design antes e depois do aparecimento do Photoshop 3, o primeiro a usar layers. Deve ter sido uma revolução!......... geekices :)

Sunday 22 March 2009

Input

Vou tentar fazer um resumo das coisas interessantes que tenho visto.
Assim elas acabam por se juntar cá dentro.

Primeiro, isto.



Projecções que interagem com performance, numa espécie de animação que conjuga realidade virtual e física. Rings a bell? É giro ver posto em práctica.
Algo do género já tinha sido feito nos 80s e re-feito em 2005, ao que parece, mas sem performers.
Também me faz lembrar a instalação do Gondry no British Film Institute, em Setembro ou Outubro, The All Seeing Eye (Hardcore Techno Version). A diferença é que estas duas últimas envolvem o espectador, ocupando o espaço à sua volta, enquanto o anúncio da Puma é quase uma peça de teatro. Também para ser apresentada na televisão, não podia ser de outra forma. Mas isto no You against You tem a possibilidade de aliar a performance à ocupação real do espaço, que se se agitar bem acaba em verdadeira interacção. Espero.

Segundo,



Um vídeo genial por várias razões: a) nunca ninguém se tinha lembrado de fazer animações com ovelhas; b) as ovelhas realmente são muito fáceis; c) o DIY é que rula - até os pastores de ovelhas dos montes perdidos de Gales fazem animações com referências a coisas tão retro-adoradas e música a condizer; d) no final aparece um link para a samsung LED. Um novo televisor, desta vez iluminado a LED. O site não oferece grande explicação da tecnologia (até irrita um bocado a forma como prometem mais informação e não dão nada), mas vale a pena ver no que isto vai dar. Só tenho pensado em projecções, mas LEDs soa tão hardcore..

Terceiro,



Um novo instrumento musical digital. Mais DIY, mas este é do elitista que para se conseguir um tem de se pertencer a uma lista, à qual periodicamente é revelada uma data de leilão do produto. Estas manias dos monopólios, sinceramente... Anyways, é um brinquedo interessante. Funciona sobre uma faixa midi em loop que modifica conforme as teclas são accionadas. O facto de elas se iluminarem cria um efeito visual que me agrada bastante. É uma fusão do dj com o vj - arcaico em estilo como o PONG era, mas muito à frente.

Quarto,

Neon Navajo - é o que tenho ouvido estas últimas duas semanas. Gosto muito. Eles têm as músicas disponíveis aqui. Ouçam várias vezes, aqueles que não estiverem habituados a ouvir tudo - vale a pena. A propósito, hoje vimos o The Blank Generation, um documentário da cena punk dos 80s em Nova Iorque. É um music video de uma hora, menos uns minutitos. É giro. Fiquei a pensar se aqueles eram a Blank Generation, o que é que nós somos. Os Neon Navajo vieram-me à cabeça. O DIY. A Paris Hilton wanna-be de calças de pijama que vi hoje no supermercado de Wood Green. Fiquei na mesma, só se vai definir quando o auge passar. E depois disso espero já ter morrido - já sei que vou ter ciúmes tremendos da geração que vem a seguir.

Wednesday 11 March 2009

Imprinted on skin

Então, fiz outro vídeo. A maioria de vocês já o deve ter visto no youtube. Senão podem vê-lo aqui.
Este não é para Middlesex. Nasceu de uma sessão fotográfica aqui na sala que eu filmei para ser parte do homevideo cá da casa. Mais um dos registos da experiência londrina, vá. Mas a experiência da sessão fotográfica fez-me tornar as imagens noutra coisa. Isto das sessões fotográficas faz-me pensar bastante, tudo o que se passa antes, durante e depois, a preparação para fotografar, o acto em si, o que está antes de tudo isso.. e se calhar vou andar a aproveitar isto para algumas experiências Greenaway. Anyway, antes de dizer mais alguma coisa, aqui está o vídeo.



Então, primeira coisa. Isto foi criado a pensar na ideia de criar vídeo de curta duração e como unidade de significado. Daí uma montagem de associação de imagens e sons muito fragmentada, em que é a sucessão de planos que lhes dá significado. O vídeo é como uma frase, mas com duas orações - cada oração é um ponto de vista diferente, mas do mesmo ponto de vista espacial porque somos capazes de compreender várias verdades diferentes e equivalentes sobre uma mesma coisa. Isto é divertido.
Então, a primeira oração é a apresentação da impressão que é feita na pessoa/modelo pelo mundo exterior e o comportamento que este provoca. Daí, os vários pequenos ecrãs que se seguem uns aos outros como input imparável, formando um círculo na tela que obriga o espectador a seguir a construção. O som é da televisão que estava ligada na altura e foi captado pela câmara.
A segunda oração começa quando a própria pessoa/modelo interrompe a sucessão de imprintings em si própria com um insight do seu interior, daquilo que ela é independentemente do input que recebe a toda a hora. Daí partimos para dois grandes planos com outra atmosfera, sem som para se sentir a suspensão da pressão externa, que a observam mais intimamente. E boom. Fim. É uma unidade de significado condensada e de curta duração.
Experiment.

Monday 9 March 2009

Isto é preocupante. Mesmo. Mil vezes mais do que os delinquentes de Wood Green que atacam os refrigeradores de bebidas do Subway.
Já ninguém sabe crescer!

Thursday 5 March 2009

Interactive Real-Life Reality!

Novos desenvolvimentos no campo das interactividades. Meti-me num projecto de mediascape. É uma coisa brutal.
Mediascape é o nome que se dá ao impacto que a criação de imagens tem no mundo. Devem conhecer o termo por causa da empresa americana com este nome que distribui produtos multimédia pela Internet e Web. Mais recentemente, mediascape é usado para se referir a uma construção de media digital, em que itens digitais são associados a áreas no espaço através de GPS e tornam-se disponíveis uma vez que alguém com o equipamento necessário (já aí iremos) entra nessas áreas. Ou seja, eu posso criar um mapa com diferentes áreas a que associa sons, imagens, animações, vídeos, you name it, e quem o percorrer vai receber todas estas coisas no seu PDA.
Ora, os contratempos. Nem toda a gente pode receber isto no seu PDA porque o dito PDA tem de funcionar com o sistema operativo Windows Mobile. Há várias projectos a ser desenvolvidos, muito interessantes e benevolentes, mas todos entre a HP e a Windows, portanto, oficialmente, esta tecnologia só está disponível nessas plataformas. Mas que eu saiba já há pelo menos um austríaco a tratar de adaptar o sistema a qualquer plataforma. O software para criar estes mapas interactivos tem dos interfaces mais simples que eu já vi, qualquer um faz aquilo. É uma questão de montar o mapa, descarregar o ficheiro para o PDA e percorrer o espaço. Tal e qual.
Em Bristol, já há vários anos que se tenta desenvolver e distribuir este tipo de tecnologia. A cidade está coberta por uma rede wi-fi e foi pioneira no geocaching. Também há vários projectos que entregam o desenvolvimento da tecnologia a crianças, para que elas tenham melhores ideias que nós.
Realmente assim de repente, tudo se pode fazer. Era isto que faltava ao Peter Greenaway. Para já, o meu grupo está a desenvolver um detective mystery/treasure hunt para se implantar em Middlesex U. Mas as possibilidades..!