Friday 28 March 2008

American History X


Já há algum tempo que andava para ver este filme. Até estava à espera que fosse uma coisa bem interessante porque só me diziam bem dele. Parece que o Ed Norton até foi nomeado para um Oscar (que vale o que vale..) Enfim, quando o écran ficou preto e começaram a aparecer os créditos a primeira coisa que eu pensei foi "Não vou conseguir dizer muito bem disto..."

American History X anda à volta de Derek que se torna neo-nazi depois da morte do pai e por influência de Cameron, o mau da fita, vai criando mais um gang na sua cidade sub-urbana, arrastando o irmão e criando mau ambiente na família. Umas coisas levam às outras e Derek acaba por matar violentamente dois pretos que lhe tentavam roubar o carro durante a noite e vai parar à prisão. O irmão, que assistiu a tudo, tem-lhe uma grande admiração e mete-se cada vez mais no gang, arranjando alguns problemas na escola.

Quando o filme começa, Derek está a sair da prisão. É um homem diferente daquele que entrou. Já não é neo-nazi. Ok, tudo bem, descobriu alguma coisa que lhe deu paz de alma suficiente para deixar de precisar do neo-nazismo, que para ele era uma forma de revolta. Até aí tudo bem. Vemos o confronto dele com os seus antigos amigos, mais confortavelmente neo-nazis do que antes agora que o gang é mais forte. Vemos também como ele era importante, o membro mais importante e mais convencido do gang. Há uma grande transformação entre o Derek antigo e o Derek novo que confunde toda a gente. Estamos todos curiosos para saber o que lhe aconteceu na prisão. E então ele conta. E sinceramente, mais valia não ter contado.

O problema que eu tenho com o filme, que tem confundido também muita gente, é que ele fala de muita coisa e não diz nada. Fala das famílias dos subúrbios, das lutas de gangs, do racismo americano (que é um bocado diferente do racismo no resto do mundo), da importância das figuras paternais (outra tradição americana), da raiva cega... Mistura-se tudo e depois não responde às perguntas. Há muita coisa no filme que nos deixa à espera de mais. É tudo demasiado fácil. Demasiado light. Mesmo o final, para quem o conhece, é incompleto. Não tenho nada contra os finais em aberto, mas aquilo não é um final em aberto. É um final fácil para dar o abanão final que vai dar o último argumento para as pessoas se decidirem que aquilo é um filme sobre a violência. American History X... a história americana, land of the free and home of the brave, de como os ideais da liberdade são corrompidos, ficou por contar.

Não sei... talvez esteja ser demasiado dura com o filme. Mas eu estava convencida antes de o ver e acabei descrente.

Wednesday 26 March 2008

Consolers of the Lonely


First things first!
O segundo álbum dos Raconteurs foi lançado ontem e está disponível para download, por €9,99, no site deles. Ao mesmo tempo foi lançado um vídeo de Salute Your Solution, uma das novas músicas.

Grande expectativa, para quem anda com o Broken Boy Soldiers sempre na selecção ambulante.

What to do in your Easter holidays if you haven't got any trip planned

Depois da euforia do costume de final das férias, das parties e tal, normalmente vem o tédio... Odeio o tédio, portanto tive de fazer alguma coisa.

Li De Profundis, a carta que Oscar Wilde escreveu ao seu amante enquanto acabava a sentença de dois anos de trabalhos forçados. Condenado por "gross indecency", depois de ter sido ilibado duas vezes da acusação de "homosexual acts not amounting to buggery". Enfim, embora haja muito a dizer sobre a condenação de um homem por um crime de que no mínimo metade da população masculina inglesa era culpada, a homossexualidade de Wilde é a parte menos interessante da sua vida. Ele tinha muito para dizer. Considerava-se um génio, claro, portanto dizia tudo com muito gosto. Para ele, a Arte era uma questão de Individualidade que se ocupava do Prazer e da Beleza. De Profundis é muito interessante pois não só fala da relação horrível que teve com lord Alfred Douglas (que era uma peste insuportável menos aos olhos do Wilde) como mostra a reviravolta que a sua visão da vida e da arte levou. Não mudou de ideias, na verdade, mas viu tudo por uma nova perspectiva. Ele era um individualista demasiado inteligente para deixar de aproveitar a experiência. Recomendo o livro a qualquer um, mesmo não conhecendo bem Wilde. São palavras de uma pessoa real sobre si próprio e sobre a Arte.

Li também The God of Small Things, de Arundhati Roy. É engraçado porque desde pequena que tinha a sensação de que ia gostar deste livro, que já anda cá por casa há muito tempo. Não queria criar demasiadas expectativas. Touché.
É uma história sobre o amor. Sobre como se formam as personalidades e os modos de vida. Uma família indiana cristã, de casta superior e anglomaníaca numa Índia onde o comunismo cresce e as essências se perdem. Pelo meio de paixões e frustrações, andam todos perdidos. Tudo gira à volta de um acontecimento dramático que marca tragicamente a família. Somos levados por décadas para a frente e para trás entre as várias personagens para conhecer as pequenas coisas que os levaram a esse acontecimento. Todos os pequenos erros que o tornaram inevitável, sem ser culpa de ninguém. As pequenas felicidades também. Enfim, não há Bem nem Mal, há a vida como ela é.


Entretanto comecei a ver Arrested Development. Que é engraçado. Tem a família rica e mimada e o pai corrupto que acaba na prisão e tem o filho certinho e nobre (que tem por sua vez um filho ainda mais certinho e nobre) que resolve os problemas todos, e os outros são todos chanfrados. Se não estamos sempre às gargalhadas, pelo menos chegamos ao fim sempre bem dispostos.

Sunday 23 March 2008

Statement 1

There hasn't been much Squeezing of the Sponge around here.
Muito pouco, muito pouco.
Principalmente, por uma questão de domínio. Escrevo quando preciso, mas só quando sou eu que domino as palavras e não o contrário. Senão, não escrevo.
Isto porque eu estou cheia de palavras e elas acabaram por suplantar tudo o resto que havia em mim. Até agora, pelo menos, foi assim.
O meu corpo é um retrato de Dorian Gray, o reflexo das palavras em mim. Uma permanência. Dormente e vigilante.
Por baixo de camadas de espelhos e vigias, as palavras da minha essência revolvem-se em turbilhão. Só sei porque turbilham quando outro as profere.
À minha volta, giram. E transformam-se. Desde que é assim que é assim.

Alguém me disse que eu era uma pessoa de poucas palavras. Porque não digo muito a muita gente. Há muitas coisas que muita gente não me diz. E as trocas e as danças vão a meios passos. Pelo meio.
Isso perde-se pelo meio.
O ser.
As palavras falham os seus encontros. Vão a más horas e levam o presente errado.
O ser está sempre sozinho.
As palavras vão falhar os seus encontros.
O ser vai estar sempre sozinho.
Mas elas estão lá na mesma. O seu único alimento. O seu único meio. A sua única arte.




Vou retirar-lhas. As palavras ao ser.

Tuesday 11 March 2008

La Habitación de Fermat


La Habitación de Fermat é o filme vencedor do Prémio Mèliés de Prata e do Prémio de Melhor Argumento da Secção Oficial de Cinema Fantástico do Fantasporto 2008. Para Luís Piedrahita e Rodrigo Sopeña esta foi a primeira longa-metragem, tendo carreira em Espanha como argumentistas humorísticos e realizadores de televisão. É importante conhecer o percurso dos dois realizadores, e a sua inclinação para o argumento, para perceber não só o filme como o sucesso que parece reclamar, isto porque o filme não é realmente um sucesso, falhando um argumento que o podia ser verdadeiramente.

O filme centra-se num pequeno espaço. Quatro matemáticos são atraídos para uma reunião por uma personagem misteriosa, Fermat, com o propósito de resolverem um grande enigma. Encontram-se então numa sala que acabam por descobrir estar rodeada por máquinas que a encolherão a não ser que os quatro consigam resolver os enigmas que o anfitrião lhes deixou. Sem outro contacto com o exterior, recebem os enigmas pelo telemóvel abandonado por um Fermat que chega atrasado e confuso e que é obrigado a deixá-los após receber uma chamada urgente. É a partir daqui que a trama se desenrola, à volta dos enigmas matemáticos e dos enigmas entre as quatro personagens.

O enredo não é original. É uma história que brinca com a capacidade lógica do espectador, à moda de Agatha Christie, com uma série de quebra-cabeças para resolver com a ameaça crescente do tempo que se esgota. O espectador é obrigado a entrar também ele na espiral de tensão e a resolver os problemas. Mas é aqui que o filme falha. Falta a real ginástica mental, tanto nos enigmas como nas personagens, que tornaria o filme mais pertinente, mais imaginativo, mais lógico e por isso mesmo mais atraente. As personagens estereotipadas reagem como já sabemos que vão reagir e nem as relações que se vão descobrindo entre elas nos chocam. Os psicologicamente fracos reagem de forma histérica, e os que se mantêm lúcidos apesar de todas as provações assim continuam para poderem passar a moral da história no fim.

Com as personagens desenvolvidas superficialmente, o filme tinha outra vertente por onde se salvar: o jogo intelectual. Que infelizmente também falha, com mais vontade até do que as personagens. É evidentemente uma opção da parelha espanhola que todos os enigmas apresentados a estes estudiosos matemáticos sejam enigmas populares, de truques semânticos e lógicos que todos já ouvimos. No entanto, por muito irritante que seja ao longo do filme, é uma opção compreensível pois seria muito mais complicado lidar com enigmas a sério que iam exigir mais explicação por parte das personagens e roubar mais espaço às intrigas interpessoais. Mas se calhar a compreensão dos enigmas pelo público foi sobrevalorizada pelos argumentistas; as personagens são mais importantes. O exemplo ideal são as séries de hospitais que vivem das personagens e dos enredos inteligentes, mesmo estando cheias de vocabulário técnico incompreensível para um leigo.

Apesar de todas estas falhas, La Habitación de Fermat ganhou o Prémio de Melhor Argumento do Fantasporto e o Mèliés de Prata, isto porque, dentro da sua superficialidade, o filme aguenta-se com uma excelente fotografia e um cenário interessante e uma linha condutora, com alguns twists para ir aumentando a tensão, bem como uma realização movimentada que filma o espaço de todos os ângulos, contribuindo para a sensação claustrofóbica que se desejava. A história evolui como um episódio de uma série televisiva que tem apenas 30 minutos para tratar de tudo. Esperava-se mais da oportunidade de fechar quatro especialistas numa sala em que os seus minutos de vida estão contados.