Friday, 24 April 2009

Coisas da Clara, mais o corpo e a existência virtual

Tenho andado a fazer uma animação que me ocupa algum tempo. É o trabalho final para Middlesex. Ainda tenho outras coisas para fazer, incluindo um argumento, mas não sei se as vou fazer. Entrei no BA de Film Video da LCC e só estou a acabar o ano em Middlesex porque aquilo até foi simpático, e quero mesmo acabar esta animação. Não quero contar a história porque quero que aquilo funcione, mas ficam só a saber que é sobre a criação de símbolos de esperança e envolve o jovem futuro-rei Artur e o Obama.
Tirando a animação, estou um pouquito sem pachorra para os outros trabalhos. Já não vou a nenhum sítio interessante há semanas, não tenho visto filmes nenhuns, nem pensado o suficiente nas coisas que ando a ler. Filmei outro projecto de vídeo, mas não tenho tempo para o editar por agora. É baseado no Filz TV do Joseph Beuys, que o Daniel partilhou no seu blog, mas como uma experiência de perspectivas diferentes em simultâneo. A performance parece estar a encher a casa. Desde que o You Against You se meteu nas nossas cabeças vai tudo dar à performance.
A propósito, vi The Wrestler. Não sei exactamente por que é que estava a guardar este filme durante tanto tempo. Anyways, sempre gostei de wrestling - lembro-me de ver com o meu irmão na altura em que dava na 1 e mais tarde quando começou a dar na Sic Radical. Diz-se que aquilo é uma merda; tem características disso, mas é um espectáculo. Eu gosto de espectáculos. O wrestling é um espectáculo especial, principalmente nesta altura, porque é o espectáculo da carne (e o Aronofski foi tão inteligente que eu quase me sinto contente de só ter percebido o que ele estava a fazer depois de ver o filme).
O Aronofski faz este filme nesta altura em que vivemos afundados em contas na web, precisamos de nos afirmar virtualmente para realmente existir e definimo-nos por padrões cada vez mais generalizantes e aleatórios. Ele faz-nos seguir um wrestler em final de carreira com planos quase de documentário, pra vermos o espectáculo da condição da carne. A existência dele é o contrário da nossa, ele só existe através da carne. Tem um ataque cardíaco, torna-se talhante - genial! Apaixona-se por uma stripper, que tem um papel social igual ao dele - genial. Tenta uma ivda normal, falha e decide atirar-se de volta à única forma que conhece de existir e só. A última sequência é linda. Para quem viu os Rockys todos de trás para a frente, dói ainda mais quando ele olha e ela não está lá (é regra, tem de estar!), mas não está, porque ele ali já está completo.
Mas não era isto que eu queria dizer. Já não me lembro a propósito de que filme, o Michael (o tutor de Film Studies) disse que devemos ter sempre em atenção quem olha para quem ou o quê, como e com que intento. No Wrestler isto é importante. O Randy 'The Ram' faz a sua performance porque a sua existência confirma-se ao ser visto. O Randy 'The Ram' é o cinema. O Randy 'The Ram' já não está em condições, infelizmente - o Aronofski já não acredita? Acho que ainda acredita, aquele salto no final é um salto de fé. Gostei mesmo de ver.
No que eu acredito vocês já sabem. E ando para aqui enfiada em frente ao computador a fazer pouco das mitologias britânicas. Agradecimentos à música que me ajuda a passar as horas. E por falar nisso, um dos próximos posts será dedicado a uma série de projectos musicais que valem a pena ser pensados dentro deste tema de 'confirmar a existência'.

2 comments:

Anonymous said...

e dps eu levo te pras free drinks! :)

Ana Aguiar said...

hum :)

isto é sempre assim apartir do momento que ouço uma coisa parece que toda a gente já anda a falar nela.
ontem o zé falou-me da vizinha do último andar (uma a que não tem´àgua em casa) ela é do tempo em que só existe se aparecer na tv.(um dia entra um carro pela travessa da bica abaixo e vai contra o elevador, isto é na rua prependicular à dela e ela só acredita quando no dia seguinte apareceu nas noticias)
Hoje em dia temos a internet...
em seguida vejo um filme do van sant com a nicole em que a loira sedutora que faz tudo para aparecer na tv, porque só se existe quando a nossa imagem é difundida, confimada basicamente...
em cultura visual andasse a falar dos géneros, relação com o pai - instituicional, logo dependente da fala, infante (significa sem fala) balblablabla

e pronto tudo a pouco e pouco vai criando mais ligaçõezinhas, e há quem esteja numas de tentar escapar à detecção, e portanto basta não aparecer na internet ^^


sempre vamos viajar pelo país?

bjinhuss srª pensante